“O cemitério do futebol está cheio de favoritos”

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Histórico, colossal, épico e inesquecível! Comemore, alvinegro: definitivamente, é tempo de Botafogo!

Igor Jesus
Igor Jesus comemora gol. Foto: Vitor Silva/Botafogo.

Admita. Você também achou que PSG x Botafogo, pela Copa do Mundo de Clubes, seria um massacre protocolar. Mais uma oportunidade de encher a internet de memes, talvez com um “lá vêm eles de novo” — versão à francesa.

Pois é. Eu, você, e talvez até o mais otimista botafoguense pensamos o pior: que seria uma aula de Kvaratskhelia, um desfile de Vitinha, um show de Fábian Ruiz… e que perder por um ou dois gols já seria digno.

Era a lógica, mas o Botafogo tratou de entrar em campo e nos lembrar que o futebol desafia a lógica todo dia nesse mundo.

A bola rolou. E rolou no mítico gramado do Rose Bowl — o mesmo palco onde o Brasil, há quase 31 anos, gritou “é tetra” com lágrimas nos olhos, Romário e Bebeto in love e Dunga em transe.

Logo, as piadas esboçadas viraram atualizações nervosas da resistência gloriosa contra o ataque do time que protagonizou o maior placar da história de uma final de Champions League.

Nos grupos de whatsapp pipocavam mensagens:
“16 minutos sem sofrer gols do PSG”,
“A essa altura, a Inter já tava levando 2”,
“Até o Atlético de Madrid já tinha tomado 2 no primeiro tempo.”

E então, aos 35 minutos do primeiro tempo, algo aconteceu. Algo que só acontece ao futebol e às utopias.

Savarino, lá no círculo central, dominou como quem segura o tempo nas mãos. E como se tivesse o taco de sinuca do mestre Didi, enfiou uma bola milimétrica para Igor Jesus entre dois “Joões” de grife do PSG. E então Igor Jesus, como quem caminha sobre as águas — em reverência ao nome e em desafio à lógica — , dominou e bateu cruzado. Um leve desvio. Donnarumma vendido. Um milagre em branco e preto. 1 a 0.

Era, sim, tempo de Botafogo!

A partir dali, a dúvida não era se, mas quando o PSG empataria. Ou viraria. Ou golearia. Mas o que se viu foi um Botafogo gigante na disciplina defensiva, letal na oportunidade ofensiva e cirúrgico na estratégia. Um time copeiro, no sentido mais puro da palavra.

O resto da partida? Pouco importa. Porque ali o futebol contou outra história. E sabe o que essa história diz?

Que o Brasil, ainda que cansado de seus próprios fantasmas, ainda pulsa. Que mesmo com décadas de colonização tática, financeira e simbólica do futebol europeu, ainda temos alma. E que essa alma, por 90 minutos, voltou a gritar.

Desde 16 de dezembro de 2012, um time brasileiro não vencia um europeu em competições de clubes. Uma geração inteira — de 13, 14, 15 anos — nunca soube o que é ver nosso futebol bater de frente com a Europa e vencer.

Para eles, o Penta é uma lenda de 23 anos atrás. O São Paulo de Telê, o Vasco de 98, o Palmeiras de 96, o Cruzeiro de 97, o Corinthians de Luxemburgo… todos parecem histórias do tiozão que aparece nas festas de fim de ano para contar que o União São João de Araras era um bom time.

No mesmo Rose Bowl que foi o palco do alívio após 24 anos de jejum da Seleção, o Botafogo chocou o mundo.

Podemos argumentar sobre o desinteresse europeu nesse torneio. Sobre o calendário, o desgaste, a diferença de foco. Podemos. Mas não devemos.

Porque o que ninguém pode questionar é o resultado. E mais do que isso: a forma. Sem sustos. Sem retranca. Sem jogar como time pequeno.
Com respeito, sim. Mas com coragem.

Sem ufanismo barato, mas também sem o complexo de vira-lata que nos moldou nos últimos anos. 4568 dias depois, voltamos a vencer um europeu. E vencer bem. Não é pachequismo, o Botafogo venceu bem.

Sim, o PSG meteu 5 a 0 na Inter há 20 dias. Sim, 4 a 0 no Atlético de Madrid quatro dias atrás. Mas perdeu para o Botafogo. Nunca fui do time do “fulano é o Brasil no mundial”, mas hoje, o Botafogo nos fez lembrar que somos todos Brasil.

Não somos mais soberanos. Mas ainda estamos entre os melhores.
Não dá para chamar os gringos de “João” com tanta facilidade — mas ainda dá para ensiná-los a dançar conforme nossa bola.

A frase do título é do técnico botafoguense, o português Renato Paiva. Com tom professoral e acadêmico, ele disse com elegância o que Zagallo gritaria com o peito estufado: “Vocês vão ter que me engolir!”

Por muito tempo, o mundo engoliu o Brasil no futebol.
Depois do 7 a 1, fomos colonizados não só no jogo, mas no espírito. Mas por uma noite, pelo menos por uma noite… voltamos a ser Brasil.

E enquanto a próxima rodada não comece e desfaça esse feitiço glorioso, celebremos. Porque no Mundial de Clubes, hoje — É tempo de Botafogo. E isso é tempo de ser Brasil novamente.

Torcida do Botafogo.
Torcida do Botafogo. Foto: Vitor Silva/Botafogo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.

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Pedro Henrique Brandão

Comentarista e repórter do Universidade do Esporte. Desde sempre apaixonado por esportes. Gosto da forma como o futebol se conecta com a sociedade de diversas maneiras e como ele é uma expressão popular, uma metáfora da vida. Não sou especialista em nada, mas escrevo daquilo que é especial pra mim.

Como citar

BRANDãO, Pedro Henrique. “O cemitério do futebol está cheio de favoritos”. Ludopédio, São Paulo, v. 192, n. 21, 2025.





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